“Viva a Maria Izabel!”: a história de Paulo Freitas, o professor doceiro que transforma vidas com a confeitaria amazônica
- Gastronomia Paraense

- 13 de jul.
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Atualizado: 14 de jul.

Belém do Pará. Um lugar onde o cheiro de cupuaçu cruza memórias, atravessa gerações e chega até nós pelas mãos de um paraense que faz da confeitaria não apenas um ofício, mas um ato de resistência, amor e identidade. Paulo Freitas, 34 anos, professor de gastronomia, historiador em formação, doceiro, idealizador d’O Bendito Café, carrega nas mãos muito mais que açúcar, farinha e manteiga. Carrega história. Carrega o Pará.
A trajetória de Paulo começa como tantas outras nas periferias da Amazônia: com poucas oportunidades e muitos sonhos. Nascido em Belém e criado em Macapá, retornou à cidade natal em 2014 com apenas 50 reais no bolso e uma certeza: não abriria mão da dignidade. Trabalhou como ajudante de pedreiro, operador de telemarketing, atendente, gandula… até reencontrar a herança da avó doceira e iniciar, finalmente, seu caminho na confeitaria.
“Minha avó ajudou a criar nossa família com bolos e doces nos anos 80 e 90. A confeitaria está no meu sangue”, lembra Paulo. A segunda faísca veio anos depois, enquanto trabalhava como balconista da antiga doceria Eti Mariqueti. “Eu não trabalhava na cozinha, mas observava tudo. Era fascinado. E quem acendeu esse fogo de vez foi a chef Eliete Santos, minha ex-patroa e amiga, que estudava Gastronomia. Ela voltava das aulas contando dos doces, e eu ficava encantado.”
Foi ali que a confeitaria deixou de ser apenas lembrança de infância e se tornou possibilidade concreta. E o gesto que transformou tudo foi o de uma amiga chamada Ketlen. “Ela me perguntou se eu queria fazer um curso de confeitaria. Eu disse que sim, e, para minha surpresa, ela me deu de presente a matrícula e dois meses pagos. Nunca vou esquecer.”

Mas nem tudo foi doce no início. Paulo enfrentou os perrengues típicos de quem começa com pouco conhecimento e poucos recursos. “Eu fazia bolos horríveis. A família elogiava, claro, mas quando comecei a vender fora, percebi que estava no prejuízo. Não sabia precificar, gastava mais do que ganhava. Andei muito a pé, de ônibus, enfrentei dificuldades que hoje me fazem rir… mas foram tempos duros.”
Hoje, com 9 anos de experiência e 3 de docência em Gastronomia, Paulo se especializou na confeitaria clássica — bolos amanteigados com doce de leite e ameixa, babás de moça, glacês mármore e flores de açúcar —, sem desprezar as tendências modernas. Mas é na memória afetiva que está seu ingrediente secreto: a Torta Maria Izabel de cupuaçu, receita de sua avó paterna que se tornou símbolo da sua trajetória.
“É uma torta grande, retangular, com muito coco fresco e frutas por cima. Minha avó comprava o cupuaçu na feira do Entroncamento e, quando o cheiro invadia a casa, sabíamos que era dia de festa. Era disputa para ver quem ficava com os caroços.” O doce traz a lembrança do pai, “o festeiro da família”, e representa o elo entre passado, presente e futuro de sua história.
Mais do que fazer doces, Paulo compartilha conhecimento, esperança e acolhimento. E talvez o episódio mais simbólico disso seja seu trabalho voluntário no Hospital Oncológico Infantil Octávio Lobo, onde dá aulas de confeitaria para crianças em tratamento. “Ali, eu vi o que o açúcar pode fazer. Crianças cansadas da quimioterapia sorrindo enquanto decoram cupcakes. Aquilo mudou minha vida. Quero que esse projeto cresça, vá para as periferias de Belém, chegue em crianças que, como eu, não tiveram oportunidades na infância.”

Inspirado por nomes como o eterno chef Paulo Martins e a professora e historiadora da alimentação Sidiana Macêdo, Paulo não apenas ensina técnicas: ele forma consciências. “Confeitaria é ciência exata, sim. Mas também é arte, é cultura, é resistência. E, acima de tudo, exige paciência. Tenho TDAH e sei o quanto é difícil trabalhar numa área tão precisa. Mas dá certo, sim. E vale a pena.”
Hoje, comanda aos domingos o pequeno e afetivo café “O Bendito Café”, no bairro da Marambaia — atualmente em pausa, mas com retorno programado para agosto. Lá, entre cafés, doces e histórias, ele recebe o público com generosidade. E enquanto conclui sua licenciatura em História e cursa Museologia na UFPA, Paulo sonha: quer participar de competições, levar sua torta para o mundo, fazer o projeto com crianças crescer e mostrar que a confeitaria amazônica é, sim, digna de respeito e reconhecimento global.

“A nossa culinária é única. O mundo está descobrindo isso. E eu espero fazer parte dessa revolução com a Maria Izabel, com o cupuaçu, com a confeitaria nortista. Viva nossa gastronomia. Viva o Pará. Viva todos que, como eu, encontraram nos doces um caminho de amor e resistência.”
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📍 O Bendito Café
📍 Viela Coronel Arthur, nº 19C – Marambaia, Belém/PA
📲 Instagram: @paulodefreitas02 | @obenditocafe











Parabéns, professor Paulo,
Vc merece todo sucesso
Que Deus lhe abençoe
Todo sucesso do mundo pra você Primo ❤️😍