Registro de Identificação Geográfica coloca o produto na linha alimentar mundial
Localizado no nordeste do Estado do Pará, Bragança é um município de muitas belezas naturais, com dunas, praias e manguezais, prédios históricos e riqueza gastronômica. Desde a última terça-feira (18), a região bragantina despontou na gastronomia internacional após conseguir o registro de Indicação Geográfica (IG) da farinha de Bragança.
A conquista de um IG valoriza o produto, estimula a economia local, além de garantir ao consumidor que a mercadoria é de qualidade. O chef de cozinha Valfir Ribeiro acredita que o reconhecimento da farinha de Bragança fortalece a culinária paraense. “O IG veio não só ressaltar o que a farinha de Bragança representava na sua artesania, feitoria e saberes. Mas se colocar na linha alimentar da cozinha paraense, brasileira e agora mundial, elevando e fortalecendo o cenário gastronômico do Pará ao nível de outros grandes alimentos de produção artesanal mundial”, afirma.
Bragantino e entusiasta da culinária local, o chef enxerga no registro da Indicação Geográfica uma forma para estimular o turismo na região. “O selo da Indicação Geográfica abre ainda mais, e com competência, o canal turístico da região bragantina certa, clara e afetuosa para o turismo de contemplação de saberes; turismo de rotas das comunidades tradicionais envolvidas no turismo oceânico e de conhecimento das regiões mencionadas na IG. E toda sua potencialidade rural, marítima, agrícola e cultura locais”, avalia.
Além de Bragança, a Indicação Geográfica também se estende aos municípios de Augusto Corrêa, Santa Luzia do Pará, Tracuateua e Viseu, que também produzem a farinha. O selo é recebido com grande alegria e como uma prova de reconhecimento do trabalho feito pelos produtores, que utilizam técnicas tradicionais desde a colheita até a torra.
“A nossa alegria é muito grande. Esse selo certamente renova as nossas esperanças, pois é o reconhecimento de muito trabalho. Trabalho tradicionalmente feito com muito cuidado e carinho pelos nossos agricultores. É um resgate cultural e a nossa gestão faz parte desse processo com os investimentos que garantimos na agricultura familiar do nosso município”, diz o prefeito de Viseu, Isaías Neto.
Para Valfir Ribeiro, a farinha de Bragança destaca-se pela qualidade e pela produção artesanal. “É intensa, crocante, torrada na medida, dourada sem adição de insumos químicos e produzida de forma totalmente artesanal”, descreve. Na região bragantina são produzidas as farinhas d’água, farinha lavada, farinha seca, farinha de tapioca da “pesada”, sendo todas elas feitas de mandioca, segundo Valfir Ribeiro. Também se encontram as farinhas gourmetizadas com jambu, charque, coco, açaí e outros.
Com trabalhos utilizando a farinha de Bragança, o chef prepara pratos como: Mujica de camarão com farinha d'água de Bragança; Mujica de lagosta com farinha lavada de Bragança; Ostra empanada na farinha seca de Bragança com molho bechamel de tucupi; Farofa de chouriço bragantino com farinha lavada de Bragança e Caçalhoada mandicoeira.
História
Até a chegada desse reconhecimento, passou-se mais de um século. A farinha de Bragança foi conhecida no período da Belle Époque na Amazônia (entre final do século XIX e início do século XX), com a estrada de ferro Belém-Bragança, que abastecia o mercado da capital. E mesmo com o fim da estrada de ferro, a farinha já fazia parte do prato paraense, explica o chef Valfir.
Valfir Ribeiro também informa que as produções realizadas contribuíram para levar a farinha de Bragança ao conhecimento das pessoas. “Em 2006, um documentário apresentado no Slow Food in Film (Slow Food é uma organização internacional criada na Itália, em 1986, que divulga culinárias tradicionais mundo afora), no Congresso americano, falava da farinha de mandioca de Bragança através da chef de cozinha Tereza Corção, apresentava o Seu Bené e seu trabalho artesanal. No ano seguinte, no festival cinema de Berlim (Alemanha), foi apresentado um longa com o trabalho com a farinha de Bragança e o Seu Bené e a chef Teresa Corção encabeçando novamente. E no Terra Madre, em Turim (Itália), a farinha de Bragança foi eleita a melhor do mundo”, lembra.
O chef acredita que o IG é a conclusão de um trabalho iniciado pelos indígenas que compartilharam seus saberes. “O IG conclui o feito que começou com tribos sul-americanas que deixaram seus saberes de ancestralidade e imersão cultural, e com os anos veio também o melhoramento com novos conhecimentos. Estima-se que [hoje] tenham mais de nove mil produtores na região bragantina, com uma produção de 850 toneladas de farinha de mandioca. A farinha de Bragança já é presença certa em receitas de muitos grandes chefs no globo”, finaliza.
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