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Gastronomia Paraense: Por que você?

Laços que se tornaram cada vez mais forte com o passar do tempo...

Crédito da foto: G2 Produções.

Desde o dia 27 de setembro de 2020, véspera do lançamento do site, este é o primeiro conteúdo que escrevo aqui no espaço “Crônicas Gastronômicas”. Desde aquele momento venho investindo minhas energias em outros ramos do site para que ele cresça e se desenvolva. Mesmo já sabendo a resposta, hoje me perguntei: Gastronomia Paraense, por que você?


Bem, a verdade é que tem símbolos o tempo todo se comunicando com a gente e muita das vezes passamos despercebidos no consciente, mas o subconsciente armazena, deixa separado em uma caixinha e quando menos esperamos: tcharam!!! Vem o UP!


Mas antes de chegar no hoje, convido você a viajar comigo aos anos 90, mas precisamente a 1996…


A infância


Nasci no município do Nordeste paraense chamado Viseu, terra linda e que amo muito. Quando eu estava com seis anos de idade, meus pais, meu irmão e eu nos mudamos para a “ilha maravilhosa”, como chamo carinhosamente Mosqueiro, distrito de Belém, uns 64 KM da capital. Conheço pessoas que tem memórias bem vívidas de antes dos cinco anos de idade, mas dos meus cinco primeiros anos de vida em Viseu recordo poucas coisas como: Quando eu brincava de comidinha na vala de areia que ficava na frente de casa, de quando minha tia me levava para passear em uma localidade da região chamada Limondeua, de quando eu ficava olhando as águas entre as tábuas da casa de palafita em que moramos, mas principalmente do cheiro da comida do colégio chamado Casulo - nossa, incrível como recordo aquele cheirinho bom vindo da copa.


Depois disso, todas as minhas memórias se construíram após 96, quando chegamos em Mosqueiro. Morávamos em uma localidade chamada Baía do Sol, lugar de praia boa para tomar banho, ventinho e gente trabalhadora. Daí vieram todas as minhas memórias de campo, como fazenda, frutas e gado. Por isso amo tanto as frutas regionais, cresci comendo muitas frutas típicas paraenses, como o jambu, a jaca, a manga, o uxi, o açaí, o araçá, o tucumã, o cupuaçu, o murici, a ingá - ah… me emociono com essas boas recordações da forte presença desses frutos em toda a minha infância - assim como a memória afetiva da minha mãe preparando o leite de vaca quentinho para tomarmos antes de ir ao colégio, ou a coalhada nos lanches da tarde.


Quando chegava as férias escolares, meu irmão e eu passávamos umas semanas em Viseu, na casa da minha irmã, e lá começaram a se construir muitas outras memórias afetivas relacionadas à gastronomia paraense com a forte presença do peixe, galinha caipira, beiju, macaxeira, caranguejo, siri e tantos outros.


Fato interessante: o meu pai sempre gostou muito de comer com farinha d’água da baguda e eu cresci comendo todos os dias nas refeições, porque em casa a regra era essa: Colocar farinha na comida para encher o buxo, se não, logo depois estaria com fome e fraco, porque é a farinha que enche o caboco (risos). Até hoje a farinha da baguda não falta em casa e é no almoço e jantar. Outra coisa: quando o meu pai pescava com os amigos, sempre fazia um avoado para comermos com chibé enquanto minha mãe fazia o prato principal.


Então ali, naqueles cenários de construção de memórias afetivas, minha identidade se formava com a força da culinária da região e aos apegos ligados à alimentação e ao ato de comer cada vez mais marcante.


Essas ligações fortes através da gastronomia paraense não estavam apenas atreladas aos meus pais, mas aos parentes e amigos. Recordo, e é impossível esquecer, porque até hoje a família toda me "encarna", que quando eu saia do colégio, ia parando na casa dos parente que ficavam a caminho de casa e almoçava na casa de cada um e quando finalmente chegava na minha, adivinhem, pois é, almoçava de novo. Era comum também meus primos e eu, assim como meus amigos também, apanharmos jambu pelo quintal dos vizinhos, jaca, biribá, manga e caju, que nem o cemitério escapava (risos). Todas essas relações geraram fortes laços entre eu e a nossa culinária regional, amor esse que vem desde a infância, mas meio que escondido no subconsciente para o “despertar da força” - entendedores entenderão - no momento oportuno. No momento certo!


E esse momento chegou anos mais tarde, em uma madrugada em que eu estava trabalhando em casa. O insight visionário que, desde então, mudou a minha vida. Bem, mas esse é um papo para outro dia…




Até mais, caro leitor e apoiador desse lindo projeto que é o Gastronomia Paraense.


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