Do Sonho Interrompido à Realização com Propósito: A história inspiradora do criador do Restaurante Solar do Bola
- Gastronomia Paraense
- 27 de jul.
- 2 min de leitura
Era 1988 quando um jovem cheio de sonhos desembarcava em Belém com um objetivo claro: tornar-se engenheiro civil. A promessa de um futuro promissor foi, no entanto, abruptamente interrompida pela instabilidade de um país mergulhado em crise. Com a chegada à presidência em 1990 e o confisco das poupanças brasileiras, o destino traçado precisou ser reinventado — e foi aí que a vida começou a revelar um outro propósito.
De volta à sua cidade natal, ele e a mãe compraram, fiado, um carro de lanches. No começo, a luta era árdua: do primeiro dia de trabalho das dezoito horas da tarde as seis da manhã vendeu apenas 20 lanches, aos 500 lanches diários apenas seis meses depois, a trajetória começava a tomar corpo. Anos depois, nascia o Bar do Bola — um espaço que chegou a vender 100 caixas de cerveja por semana, além de servir refeições completas, do café ao jantar, atendendo até os policiais militares da região, muitas vezes fiado, com a mesma confiança de quem acredita na força da comunidade.
Mas o caminho, como tantos, teve suas pedras. Com a mudança política no estado e a retirada dos policiais em 1996, o Bar do Bola quebrou. Vieram então dias difíceis em Manaus, trabalhando em áreas diversas como mecânica, eletricidade e refrigeração — nenhuma delas com a mesma paixão. Foi nesse período que ele questionou, com sinceridade, os desígnios da vida. E a resposta veio de forma clara: estava na hora de voltar à sua verdadeira vocação.
Em 2001, nasce o Restaurante Solar do Bola, em Soure, no coração do Marajó. Com cardápio próprio, focado nos sabores locais e inspirado nos ensinamentos de sua mãe — sua grande mentora — ele reencontrou sua essência. Caçula de sete irmãos, órfão de pai aos sete meses, ele cresceu ajudando a mãe a cozinhar para sustentar a família. Nas festas, nas praias, onde houvesse gente e fome, ela estava, e ele, ao seu lado. Hoje, entende: aquele era o chamado de Deus, moldando sua habilidade, cultivando o dom.
“80% do que sonhei, já conquistei”, diz ele com serenidade. E completa: “Dinheiro nunca foi o principal. O mais importante sempre foram as pessoas”. Com fé inabalável, ele segue firme nos 20% restantes de seus sonhos, confiante de que tudo vem no tempo certo. “Deus pegou forte na minha mão, e eu gosto de retribuir da mesma forma.”
A história do Solar do Bola não é apenas sobre gastronomia. É sobre fé, superação, humildade e o poder transformador do propósito. Entre lutas, quedas e recomeços, ele se manteve firme, com paciência, foco, planejamento, determinação — e, acima de tudo, gratidão.
“Tudo vai dar certo. Amém.” É com essa certeza, cultivada ao longo de décadas de batalhas silenciosas e vitórias sentidas na alma, que ele segue, honrando o passado, vivendo o presente e acreditando no futuro. Porque, como ele mesmo diz: “Há espaço para todos, mas o merecimento vem de Deus.”
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