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Jhow Ramos: o fogo, o afeto e a Amazônia na cozinha do Brasil

crédito da foto: arquivo pessoal.
crédito da foto: arquivo pessoal.

Em um mundo onde a pressa empacota sabores e a identidade se dilui no ritmo das entregas expressas, Jhow Ramos resgata o tempo das avós, o cheiro de quintal e a potência de um território. Cozinheire da Amazônia, pessoa trans não binária, artista do fogo e guardiã de memórias, Jhow não apenas cozinha: convoca. Convoca a ancestralidade, o afeto, a política e a floresta para dentro de cada prato.


Sua história não começou em uma escola de gastronomia, mas no calor de uma lanchonete familiar, nas mãos açucaradas da mãe, no quintal onde o avô assava peixe sobre dois tijolos. “A cozinha era o lugar onde tudo acontecia: partilha, cuidado, festa, cura, saberes. Começou ali”, conta, com a emoção de quem transforma lembrança em receita.

crédito da foto: arquivo pessoal.
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A Amazônia no peito e no prato


“Ser cozinheire da Amazônia é carregar um território inteiro dentro de si.” Para Jhow, isso significa escutar o fogo, respeitar os ciclos da floresta e saber que o tucupi não é apenas um líquido dourado: é cultura líquida. É resistência. É poesia que ferve.


Na cozinha, Jhow combina tradição e criatividade com uma assinatura própria, que pode ser traduzida em uma frase que guia sua trajetória: “mão na massa, pé no chão e coração no fogo”. A frase é, ao mesmo tempo, manifesto e mantra. “É cozinhar com alma, com verdade e com a chama acesa por dentro, nunca desistir, independente dos desafios”, diz.

crédito da foto: arquivo pessoal.
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Quando a comida é uma lembrança viva


Um dos pratos que traduz sua trajetória é o risoto de castanha com jambu e ragu de búfalo, finalizado com tuile de laranja e gengibre. Mas a memória mais antiga é mais simples — e profundamente simbólica: o peixe assado do avô, feito no quintal da casa de praia, sobre uma churrasqueira improvisada. “Simples, mas carregado de acolhimento. Hoje, traduzo essa memória em quase todos os meus pratos. É uma forma de dizer: ‘eu lembro’.”

crédito da foto: arquivo pessoal.
crédito da foto: arquivo pessoal.

Cozinha como fé, como política, como identidade


Para Jhow, a fé e a ancestralidade são temperos invisíveis, mas indispensáveis. “Cada prato é uma reza, uma oferenda, um reencontro com minhas raízes.” E é também um ato político. Cozinhar é afirmar sua existência como pessoa trans, nortista, amazônida. “Minha cozinha é um território de disputa, onde afirmo minha identidade e meu direito de sonhar.”


@cozinhanortena: uma cozinha que inclui, alimenta e inspira


Jhow é também idealizadore da Cozinha Nortena, um projeto que une gastronomia, inclusão social e identidade amazônica. “É uma cozinha autoral, feita por pessoas trans, que valoriza a agricultura familiar, a sazonalidade e o pertencimento”, explica. Um espaço onde a panela ferve, mas também se aprende, se acolhe, se compartilha.

crédito da foto: arquivo pessoal.
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Desafios e esperanças


Trabalhar com gastronomia amazônica ainda impõe obstáculos: logística precária, invisibilidade midiática, preconceito. “Ainda é difícil para quem vive fora dos grandes centros ser reconhecido no Brasil. Mas seguimos plantando, colhendo e servindo resistência.”


E é essa resistência que guia seu recado para quem sonha seguir na gastronomia com autenticidade: “Seja fiel às suas raízes. Cozinhe com coragem, com propósito e com o coração aberto. A gastronomia precisa de verdade, não de cópias.”

crédito da foto: arquivo pessoal.
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Uma receita com sabor do norte


Para quem quer sentir um pouco da Amazônia em casa, Jhow deixa uma receita simples, mas afetiva:

Farofa de banana pacovã com farinha d’água:

Refogue alho, cebola, pimenta de cheiro e cheiro-verde em azeite de castanha. Adicione farinha d’água grossa e finalize com lascas de banana pacovã assada. Crocante, doce e cheia de memória.



Você pode acompanhar Jhow Ramos no Instagram pelo perfil @chef_jhow.ramos e também no projeto @cozinhanortena. Ali, entre fotos, receitas e reflexões, a Amazônia pulsa em cada postagem, convidando todos a sentar à mesa com respeito, afeto — e sem fronteiras.

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