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O grito da mandioca: o legado da Amazônia

Crédito da foto: Arquivo pessoal.
Crédito da foto: Arquivo pessoal.

No coração da Amazônia, entre casas de farinha, histórias ancestrais e o cheiro peculiar do tucupi recém-preparado, uma mulher idealiza um museu com as mãos da memória e os pés fincados na terra. Sigla Regina Pantoja de Freitas, amazônida, educadora, mãe e pesquisadora, idealizou e tornou realidade o Museu da Mandioca da Amazônia (MUMA), um espaço de resistência, afeto e ancestralidade. Mais do que um local expositivo, o MUMA é um território simbólico onde tradição e futuro se abraçam.


A história desse museu nasce da observação sensível de um detalhe aparentemente simples: o tipiti, tecnologia indígena ancestral usada para espremer a massa da mandioca, estava sendo substituído por prensas metálicas. Para muitos, uma modernização. Para Sigla, um alerta. “Aquilo me tocou profundamente, pois vi ali não apenas a troca de um instrumento, mas o risco de apagamento de um saber tradicional que carrega muita história”, afirma. Foi nesse instante que brotou a semente do MUMA — uma iniciativa que conecta o saber de gerações com o presente.

Crédito da foto: Arquivo pessoal.
Crédito da foto: Arquivo pessoal.

Ao lado do marido, o pedagogo e pesquisador Antonio de Pádua Dantas de Freitas — hoje diretor do museu — e do filho, o engenheiro agrônomo Augusto César Pantoja de Freitas, Sigla estruturou o projeto em parceria com a comunidade de Espírito Santo do Itá de Santa Izabel, onde o museu funciona. A base foi a memória afetiva, especialmente a de sua mãe. “Sempre me encantei com as mãos que transformam a mandioca em alimentos, sustento e cultura… como as da minha mãe, que me trazem memórias afetivas.”


O MUMA é mais do que um espaço físico. Ele é uma experiência. Os visitantes são conduzidos por um roteiro imersivo, que inclui visitas guiadas, exposição de utensílios tradicionais como o tipiti, o cocho e o ralador, além de uma galeria de fotos e roteiros pelas casas de farinha da comunidade. É possível ver, ouvir, tocar e até provar os sabores da mandioca: farinha, beiju, goma, tucupi e muito mais.

Crédito da foto: Arquivo pessoal.
Crédito da foto: Arquivo pessoal.

“O museu honra o legado dos povos originários e quilombolas”, diz Sigla. “Conecta tradição com inovação ao receber pesquisadores, chefs, turistas e jovens. No museu o passado inspira, o presente pulsa e o futuro brota.”


Um desses momentos de pulsar foi a participação no 2º PAB Brasil — Plano de Ação Brasileira de Combate à Desertificação — na UFRA, em maio de 2024. Ali, Sigla e seu marido Antonio de Pádua, juntamente com a comunitária Jane Costa e o professor Thiago Carvalho, da UFRA, apresentaram uma exposição do Museu a especialistas e representantes de todo o país. “Foi emocionante perceber que nosso trabalho está ultrapassando fronteiras e tocando muita gente”, conta com orgulho.

Crédito da foto: Arquivo pessoal.
Crédito da foto: Arquivo pessoal.

Apesar da crescente visibilidade, manter o museu de pé é uma tarefa árdua. A falta de recursos e estrutura exige criatividade, parcerias e muito trabalho voluntário. “O maior desafio talvez seja mostrar para o mundo o quanto esse saber ancestral tem valor”, desabafa. Ainda assim, ela não recua. Pelo contrário: sonha em expandir o museu, transformá-lo num centro de formação e pesquisa sobre a mandioca e a cultura alimentar amazônica.


Atualmente, as visitas ao museu são feitas mediante agendamento pelo WhatsApp (91 99154-1093), respeitando o ritmo da comunidade local. “Destacamos apenas três dias por semana para as visitas. É preciso ouvir o tempo da terra e das pessoas que vivem dela.”

Crédito da foto: Arquivo pessoal.
Crédito da foto: Arquivo pessoal.

Hoje, Sigla e sua família colhem os frutos do que semearam e compartilham com a comunidade. A comunidade de Santa Izabel começa a enxergar com outros olhos a mandioca que sempre fez parte do cotidiano. “O museu tem despertado orgulho nas pessoas, e isso é muito bonito de ver. Estamos construindo juntos esse sentimento de pertencimento.”


A mandioca, símbolo maior da identidade paraense, é para Sigla mais que alimento: é alma. “Ela está presente no nosso prato, na nossa fala, nas festas, nos saberes que atravessam gerações. Mais do que comida, ela é cultura, é história, é orgulho de ser quem somos.”

Crédito da foto: Arquivo pessoal.
Crédito da foto: Arquivo pessoal.

E para quem atua na defesa da gastronomia e cultura popular da Amazônia, ela deixa um recado: “Acreditem e sigam firmes! Cada prato, cada técnica, cada história tem um valor imenso. Quando valorizamos o que é nosso, damos voz às nossas raízes e força ao nosso futuro.”


Na luta diária de Sigla Regina e sua família, o Museu da Mandioca da Amazônia é um farol: ilumina o caminho de volta às raízes e de mãos dadas com o futuro. Porque na Amazônia, onde muitos veem apenas roçado, ela viu história. E fez dela um museu.



SERVIÇO

Museu da Mandioca da Amazônia (MUMA)

📍 Local: Santa Izabel do Pará

📅 Visitas: Mediante agendamento (3 dias por semana)

📞 WhatsApp: (91) 99154-1093

🤝 Parcerias: UFRA e Instituto Paulo Martins

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