Chef Victor Souza, que cresceu na periferia, é o idealizador do projeto social
O projeto social “Gastronomia na Quebrada”, criado pelo chef Victor Souza, que nasceu e cresceu no bairro do Benguí, em Belém, tem a finalidade de oferecer cursos e oficinas de culinária, em modalidades práticas e teóricas, aos moradores das periferias, que, muita das vezes, não tem condições de pagar cursos na área. Os cursos vêm crescendo nos bairros e quem participa, além dos aprendizados, recebe certificado.
Victor Souza ama a culinária regional e foi segundo lugar, por dois anos consecutivos, em 2021 e 2022, no festival Enchefs Pará, colocação essa que o fará representar o estado no Prêmio Nacional Dólmã 2022, que este ano será em Macapá, no Amapá, premiação considerada o Oscar da Gastronomia nacional. Por trás de uma trajetória de sucesso, existe um jovem que saiu da periferia com muita paixão pela cozinha. “Não tinha apoio e nem condições financeiras para pagar um curso de culinária, então fui lavar louça e limpar muito chão para poder chegar na beira do fogão e aprender algo. Na periferia de Belém, eu tive dificuldade de aprender sobre culinária por falta de recursos e incentivo do governo, mas existia uma grande facilidade de entrar para criminalidade”, disse.
Combater a criminalidade e proporcionar oportunidades são um dos objetivos do projeto. “Sempre passava pela minha cabeça que um dia alguém tinha que olhar por aquelas pessoas e ajudar com que elas tenham um futuro melhor, criar uma barreira para que esses jovens não entrem no mundo das drogas, tornar eles futuros empreendedores no ramo da alimentação e, acima de tudo, fazer com que se tornem boas pessoas, o projeto Gastronomia na Quebrada é isso. Nossa meta é mudar vidas por meio da gastronomia”, afirmou.
Crédito das fotos: Divulgação.
As atividades necessitam do auxílio dos centros comunitários que existem nos bairros. “O projeto funciona da seguinte forma: eu procuro primeiro o bairro, depois algum centro comunitário ou algum lugar que tenha estrutura para recebê-lo. Em seguida, busco por apoiadores e falo com amigos chefs que se interessem em dar aula sobre algum segmento que eles dominam. Geralmente o projeto dura dois dias no em cada bairro, com várias turmas e vários cursos livres. Na primeira edição que fizemos, no bairro do Bengui, distribuímos mais 150 certificados de vários cursos livres, como pizzaria e hambúrguer artesanal. Eu ministro aulas de culinária amazônica, porque por onde passo sempre falo da nossa culinária e da nossa cultura”, explicou.
Segundo o chef, encontrar pessoas dispostas a ajudar é um dos maiores desafios. “Para realizar o projeto, eu preciso montar uma rede solidária de pessoas que estejam dispostas a me ajudar. Quando vou em busca de apoiadores, eu bato de porta em porta em busca de ajuda, de 50 pessoas que eu procuro apenas nove me ajudam. Por trás disso tudo, tem muita luta para poder fazer acontecer, muitas noites de sono mal dormidas. A minha recompensa é ver o sorriso das pessoas e saber que eu, de alguma forma, estou tentando mudar o mundo e esse cenário de que na periferia só tem coisas ruins”, concluiu.
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